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Quais os riscos da cirurgia de varizes?

Atualizado: 18 de abr. de 2020

A cirurgia de varizes é um procedimento muito seguro, com baixo risco e baixo índice de complicações. Nesse artigo vou detalhar para vocês tudo o que existe relatado na literatura médica sobre os riscos da cirurgia de varizes e o que os médicos e pacientes podem fazer para diminuir a probabilidade de complicações. E se, mesmo assim, você não se convencer a operar suas varizes, mostrarei alguns tratamentos alternativos à cirurgia.


a cirurgia de varizes é considerada de baixo risco

Eu já escrevi aqui no blog vários artigos sobre a cirurgia de varizes, explicando como ela é feita (para ler mais clique em Como é feita a cirurgia de varizes nas pernas: passo-a-passo), em que casos a veia safena precisa ser tratada, quais as novas alternativas de cirurgias minimamente invasivas como a cirurgia de varizes com laser.


Para cada caso optamos pelo tratamento que trará o melhor resultado funcional e estético, de acordo com os sintomas que a pessoa apresenta, com o tipo, tamanho e quantidade de varizes, com a presença ou não de complicações como escurecimento da pele da perna e úlceras e com outros fatores como idade e presença de doenças que aumentem o risco de uma cirurgia, por exemplo. E muitas vezes chegamos à conclusão que a cirurgia é o melhor a ser feito.


E é aí que o medo aparece! O que pode acontecer comigo se eu operar as varizes?


Risco de morte na cirurgia de varizes


O medo principal de qualquer pessoa que irá se submeter a uma cirurgia qualquer é o medo da morte. Morrer durante uma cirurgia de varizes é muito muito raro, porém, no Brasil, esse receio é disseminado especialmente devido a um caso que ficou muito famoso na década de 80. A maioria dos leitores provavelmente nem era nascido ainda quando, em 2 de abril de 1983, a cantora Clara Nunes faleceu vítima de complicações decorrentes de uma cirurgia de varizes. Clara Nunes era uma das cantoras mais populares do Brasil na época e sua morte causou muita comoção, mais de 50.000 pessoas compareceram ao seu velório na quadra da Escola de Samba Portela e houve cortejo fúnebre em carro do corpo de bombeiros até o cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, onde está enterrada. Após as investigações sobre o caso, concluiu-se que a causa da morte da cantora foi uma reação anafilática ao halotano, substância gasosa que era usa em anestesia geral na época. Se você quiser saber mais detalhes sobre o caso, veja o artigo sobre isso na wikipédia clicando aqui.


A cantora Clara Nunes faleceu em 1983 por complicações de uma cirurgia de varizes
Clara Nunes

Fiz um levantamento de 27 estudos que existem publicados sobre pacientes que foram submetidos a cirurgia de varizes dos mais variados tipos, somando mais de 10.000 pacientes estudados. Não houve o relato de nenhuma morte nesses estudos. ZERO mortes em 10.000 cirurgias.


Os únicos casos de morte devido a cirurgia de varizes que estão relatados na literatura médica foram 4 casos em um estudo que focou apenas em cirurgias em que houve uma complicação grave que é a lesão de vasos maiores. Esse tipo de lesão só é possível de acontecer nas cirurgias de retirada da veia safena (expliquei como essa cirurgia é feita aqui) e mesmo assim é bastante rara, ocorrendo em apenas 0,017 a 0,3% das safenectomias. Um outro estudo relatou um caso de morte no pós-operatório de cirurgia de varizes. Era um estudo sobre cirurgia em paciente que já haviam retirado a safena e apresentaram novas varizes na região da virilha (os vasculares chamam isso de recidiva de croça da safena). Nesses casos, a cirurgia é bem mais delicada porque já houve um processo cicatricial na região e devido a isso, as estruturas já não estão mais tão fáceis de identificar, o que aumenta muito a taxa de complicações (que podem chegar até 40% dos casos). Quem quiser ler os artigos científicos completos, clique aqui e aqui.


Sendo assim, concluímos que a chance de morrer devido a uma cirurgia de varizes é quase ZERO e as únicas mortes que ocorreram foram devido a complicações graves que são muitíssimo raras.


Risco de amputação da perna na cirurgia de varizes


Existem 15 casos de amputação relatados em toda a história da cirurgia vascular devido a complicações de cirurgia de varizes. Todos os casos aconteceram devido a lesões na artéria femoral, que fica próxima à junção da veia safena e da veia femoral, sendo assim, esse tipo de complicação também só é possível de acontecer nos casos de retirada da veia safena (safenectomia aberta). Como eu expliquei acima, esse tipo de lesão de grandes vasos é muito muito rara e acontece em no máximo 0,3% dos casos de safenectomia. Segundo o estudo que verificou essas complicações (leia na íntegra aqui), dos casos em que acontecem a lesão da artéria, em 34% das vezes houve necessidade de amputação. Nos outros 66% dos casos, o paciente não teve nenhum problema após o reparo da lesão arterial.


Ou seja, o risco de sofrer uma amputação devido a complicações de uma cirurgia de varizes é mínimo, considerando que há poucos casos no mundo em que isso ocorreu.


Risco de trombose na cirurgia de varizes


O risco de se ter uma trombose venosa profunda por causa de uma cirurgia de varizes varia entre 0,5 e 1% nos estudos. Para quem não sabe o que é uma trombose venosa profunda, leia o artigo “Trombose venosa profunda: saiba como prevenir e tratar este problema”.


Entre as todos os casos que tiveram trombose venosa profunda, em apenas dois deles houve tromboembolismo pulmonar e não houve nenhuma morte devido a este quadro.

Há um estudo publicado por pesquisadores da Nova Zelândia em 2004 que realizou acompanhamento rigoroso com ultrassom doppler em 377 pacientes que realizaram retirada da veia safena. Os pesquisadores identificaram a presença de trombos (coágulos) em veias do sistema profundo em 5,3% dos casos após 2 semanas da cirurgia. Na maioria dos casos (4,7%) esses coágulos estavam localizados em pequenas veias da musculatura da panturrilha e eram assintomáticos, ou seja, o paciente não sentia nada de diferente além do esperado para o pós-operatório. Após 1 ano, os pacientes foram reavaliados e em 50% dos casos não havia nenhuma sequela de trombose em suas veias. (leia o artigo na íntegra aqui)


A trombose venosa é uma complicação que pode acontecer em qualquer tipo de cirurgia, porém quanto maior a cirurgia e maior a necessidade de repouso sem andar no pós-operatório, maior a chance de isso acontecer. Por isso que é importante escolher a técnica cirúrgica menos invasiva possível, que vai possibilitar uma recuperação mais rápida, com menos dor e permitir que o paciente comece a andar mais rápido, diminuindo a chance de acontecer essa complicação. Além disso, é importante relatar ao cirurgião vascular dores e inchaços acima do esperado no pós-operatório, que devem ser prontamente investigados com exame de ultrassom doppler colorido. E, se uma trombose for identificada, esta deve ser tratada imediatamente, para evitar complicações e sequelas.


Outras complicações da cirurgia de varizes


Outras complicações menores também estão descritas nos estudos sobre cirurgia de varizes. São elas:


- Infecção da ferida operatória (1,5 a 13,7%): ocorre quando há a entrada de bactérias pelo corte que realizamos para fazer a cirurgia. Nesses casos, ocorrer vermelhidão e inchaço no local e pode haver saída de pus. Assim que a infecção for detectada deve ser iniciado tratamento com antibióticos para matar as bactérias causadoras, e às vezes, é necessário a drenagem do pus, o que na maioria das vezes pode ser realizado no próprio consultório do médico sob anestesia local, sem necessidade de nova internação. O aparecimento da infecção ocorre de 3 a 7 dias após a cirurgia. Para evitar a ocorrência desse problema, é indicada a injeção de uma dose de antibiótico logo antes de iniciar a cirurgia. Um estudo de 2010 mostrou que pacientes que receberam essa dose de antibiótico logo antes do início da cirurgia tiveram uma taxa de infeção muito menor do que aqueles que não receberam esse medicamento preventivo. (saiba mais sobre este estudo aqui )


- Fístula linfática e linfocele (1,3 a 16,5%) : ocorre quando há a lesão dos minúsculos vasos linfáticos que se encontram próximos às veias varicosas retiradas. Nesses vasos corre um líquido transparente chamado linfa e esse líquido pode se acumular debaixo da pele, levando ao aparecimento da linfocele ou pode extravasar para fora, levando ao aparecimento da fístula linfática. São complicações bastante benignas, sem grandes repercussões além do desconforto. São tratadas com compressão do local, e, em alguns casos, pode ser necessária a drenagem desse líquido sob anestesia local.


- Tromboflebites (0,3 a 20%): ocorre quando há o aparecimento de um coágulo de sangue em alguma veia superficial que não foi retirada. Quando fazemos a cirurgia de varizes, retiramos apenas as veias que estão varicosas. Porém, essas veias varicosas estão interligadas com outras veias normais, que são deixadas na perna. Essas veias precisam ser amarradas (ou ligadas como dizemos no jargão cirúrgico) para evitar sangramentos e devido a isso às vezes seu fluxo fica interrompido e pode haver formação de coágulos de sangue e inflamação. As tromboflebites (ou flebites) podem se estender para as veias profundas e causar uma trombose venosa profunda, mas isso é razoavelmente raro. Na maioria das vezes causam apenas vermelhidão, calor e dor no local, o que é tratado com remédios anti-inflamatórios e com compressas. Dependendo da extensão da flebite. O cirurgião vascular pode considerar que vale a pena iniciar o tratamento com medicamentos anticoagulantes, para evitar que ocorra uma trombose.


- Pneumonia, infecção urinária e outras infecções (0,3 a 0,5%): são complicações inerentes a qualquer procedimento cirúrgico e, assim como no caso da trombose, a recuperação mais rápida, com menos dor e que permita que o paciente comece a andar mais rápido, diminui a chance de isso acontecer.


- Hematomas e equimoses (1 a 75%): essa é uma complicação extremamente comum. Eu diria que é esperada. Como na cirurgia de varizes estamos retirando veias, quase sempre ocorre o extravasamento de um pouco de sangue para os tecidos abaixo da pele, o que causa o aparecimento de manchas roxas (que são as equimoses) e de nódulos cheios de sangue (que são os hematomas). Essa é uma complicação benigna, que na grande parte das vezes não necessita de nenhum tratamento específico. No caso dos hematomas, se estes forem muito grandes, o cirurgião pode optar por drená-los, isto é, por realizar uma anestesia local e um pequeno corte para retirar o sangue retido. Isso ajuda a aliviar a dor e evitar que haja uma infecção desse sangue que ficou ali parado. No caso das equimoses, geralmente indicamos apenas a massagem local com cremes e géis que facilitem a sua absorção. Uma das formas de diminuir o aparecimento das equimoses e hematomas após a cirurgia de varizes é o uso correto das meias de compressão elásticas prescritas pelo cirurgião vascular.


E se mesmo sabendo que o risco da cirurgia de varizes é pequeno eu não quiser operar?


Para as pessoas que não desejam se submeter à cirurgia existem ainda algumas alternativas.


Se você possuir apenas microvarizes e vasinhos, e não houver em seu exame de ultrassom refluxo ou insuficiência da veia safena, de veias perfurantes ou de varizes colaterais maiores do que 3 mm de diâmetro, é possível realizar seu o tratamento no consultório médico utilizando o laser transdérmico Nd YAG 1064nm associado à escleroterapia (aplicação de glicose). Já falei sobre este tratamento nesse post aqui, dá uma olhada lá.


As microvarizes e os vasinhos também podem ser tratados com a escleroterapia com espuma de polidocanol. Já falei disso também, leiam no artigo "Tratamento para varizes com espuma: quando deve ser feito?".


Agora, se no seu caso há insuficiência ou refluxo da veia safena, de veias perfurantes ou de varizes maiores do que 3 mm, podemos realizar a escleroterapia com espuma de polidocanol. Esse tratamento é possível porque podemos realizar a injeção da substância diretamente na veia afetada mesmo que esta não seja visível, através do uso do aparelho de ultrassom para guiar a punção. Com o ultrassom, enxergamos a veia que está com problema e injetamos a espuma diretamente nela, garantindo a eficiência do método. Infelizmente, a efetividade da escleroterapia com espuma de polidocanol é inferior à da cirurgia e da termoablação da veia safena com laser (saiba mais sobre isso lendo esse artigo aqui).


A termoablação da veia safena com laser ou com radiofrequência pode ainda ser realizada sob anestesia local, com ou sem sedação, o que pode ser uma alternativa para o tratamento da insuficiência da veia safena em pessoas que não querem ou não podem ser submetidas à anestesia raquidiana ou à anestesia geral.



Conclusão


A cirurgia de varizes é extremamente segura. O risco de morrer em decorrência desse tipo de cirurgia é praticamente zero e o risco de complicações maiores como amputações e tromboses também é bastante pequeno. Outras complicações menores como infecção da cicatriz, flebites e manchas roxas ocorrem com mais frequência, mas são de tratamento simples e existem formas de diminuir o seu aparecimento.


Para as pessoas que não desejam ser operadas, existem ainda outras alternativas de tratamento como o laser transdérmico para as microvarizes e vasinhos e a escleroterapia com espuma de polidocanol para varizes maiores e veia safena, ou ainda a termoablação com laser da veia safena realizada com anestesia local.



medico vascular sao paulo laser vasinhos

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Sobre a autora


Dra. Juliana Puggina é médica cirurgiã vascular e escreve artigos informativos no blog 'Pernas pra que te quero'. Formada em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com residência médica em Cirurgia Vascular e Endovascular pela Universidade de São Paulo (USP). Membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e do American College of Phlebology.


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