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Eu preciso mesmo tirar a veia safena? Ela não vai fazer falta no futuro?

Atualizado: 18 de abr. de 2020

Uma pergunta que recebo freqüentemente pelos nossos meios de interação (Instagram, Facebook, Whatsapp) é a respeito da retirada ou não da veia safena na cirurgia de varizes.


Nesse artigo irei falar um pouco sobre as indicações de safenectomia (retirada da veia safena), alternativas de tratamento e por que ela pode ser retirada. Para saber como a safenectomia é realizada, acesse o artigo "Cirurgia para varizes: saiba como é feita passo-a-passo".


Você também pode assistir ao vídeo sobre esse tema clicando abaixo:


Por que é possível retirar a veia safena?


A veia safena interna é a principal veia do sistema venoso superficial do membro inferior

Em cada perna, temos 2 veias safenas: uma maior que vai da virilha até o pé, chamada veia safena interna ou magna, e uma menor, que vai do joelho até o pé, correndo na face posterior da perna, a veia safena externa ou parva.  Como eu já expliquei nos artigos "Cirurgia para varizes: saiba como é feita passo-a-passo" e  "Salto alto causa varizes?", o sistema venoso das pernas é composto por 2 conjuntos de veias: as superficiais e as profundas. As veias safenas são as principais veias superficiais das pernas, e se ligam ao sistema profundo através das veias perfurantes.


A maior parte do sangue que retorna dos pés para o coração passa pelas veias profundas, que correm próximas à musculatura. Sendo assim, somente uma pequena parte do sangue passa pelas veias superficiais e por isso é que podemos retirar ambas as safenas e ainda as varizes colaterais de uma perna sem ter prejuízo no retorno do sangue.


Quando a safena deve ser retirada?

O diâmetro e o refluxo da veia safena são medidos através do ultrassom doppler venoso (duplex)

A indicação de safenectomia varia bastante entre os cirurgiões vasculares. Mas é consenso que, quando a veia se encontra extremamente dilatada e com refluxo significativo, ela deve ser retirada. O refluxo ocorre quando o sangue, ao invés de ir em direção ao coração (para cima) , ele vai em direção ao pé (para baixo). Ele aparece quando as válvulas da veia já não funcionam de forma adequada.


A maioria dos cirurgiões não retiram a veia safena quando esta apresenta diâmetro normal e pouco ou nenhum refluxo. Tanto o tamanho quanto o refluxo na veia são avaliados através de exame de Ultrassom doppler venoso.


A retirada da veia safena pode causar algum outro problema?


Infelizmente, a retirada da veia safena pode cursar com complicações.  A principal delas está relacionada com a lesão dos nervos safeno e sural e dos vasos linfáticos que acompanham as veias safenas.


O nervo safeno é um nervo que acompanha a veia safena magna e em até 39% dos casos ele é lesado durante a retirada da veia, especialmente quando esta é retirada desde a virilha até o tornozelo . A lesão do nervo safeno causa amortecimento e formigamento (parestesias) da face interna da coxa e perna.


Já a lesão ao nervo sural pode ocorrer durante a retirada da veia safena parva, levando a amortecimento e dor em queimação na face posterior da perna em até 4% dos pacientes. (esses dados foram retirados daqui)


Quando ocorre lesão aos vasos linfáticos, pode haver inchaço da perna no pós operatório. Na maioria das vezes, esse inchaço é reversível.


E se no futuro eu precisar de uma ponte de safena no coração?


Um dos receios dos pacientes que precisam ser submetidos à retirada da veia safena é quanto à necessidade do uso dessa veia no futuro.


A veia safena é utilizada em muitas cirurgias para substituição de segmentos de artérias que estão obstruídos ou danificados, sendo considerada o melhor substituto para artérias em geral.


Hoje, com o envelhecimento da população, aumentaram os índices de doenças oclusivas das artérias, seja das artérias do coração, pescoço e membros inferiores, que levam a problemas com infarto do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais (derrames), dores para caminhar e gangrenas. Em alguns desses casos, a veia safena pode ser utilizada como uma ponte (ou enxerto) para transpor uma área que esteja entupida, devolvendo a circulação para a área que estava sem sangue. Falei mais sobre a aterosclerose e as doenças obstrutivas arteriais no post "Dor nas pernas para caminhar: saiba tudo sobre doença arterial periférica"

A safena pode ser utilizada como substituto de várias artérias, inclusive as artérias do coração (coronárias)
Ponte de veia safena feita nas artérias coronárias (artérias que irrigam o coração)

Além disso, com a crescente onda de violência que acomete nosso país, aumentaram os casos de lesões às artérias, seja por conta de acidentes automobilísticos e ferimentos por arma de fogo ou armas brancas. Quando ocorre a secção de uma artéria por um desses traumas, também é possível utilizar a veia safena para reconstituir a circulação e evitar inclusive a perda de um braço ou de uma perna.


Pensando nisso, alguns cirurgiões vasculares propuseram técnicas de preservação da veia safena nas cirurgias de paciente com varizes. Esses cirurgiões acreditam que, mesmo quando existe refluxo na veia safena, em alguns casos é possível eliminar as causas desse refluxo melhorando a função da veia.


Porém, quando a veia safena já está tortuosa e com o diâmetro muito alterado, não há benefício em mantê-la, já que suas paredes já estão danificadas e não servirá como substituto de uma artéria em caso de necessidade. Nesses casos ela pode e deve ser retirada.


Existe alguma alternativa à retirada da veia safena?


Em 1988, um cirurgião francês chamado Franceschi descreveu uma técnica de cirurgia em que era realizada a desconexão da veia safena magna da veia femoral (veia profunda), seguida por ligaduras da veia abaixo das veias perfurantes que tivessem refluxo e retirada das veias colaterais (varizes). Essa técnica ficou conhecida por CHIVA (Cure conservatrice et Hémodynamique de l’insuffisance Veineuse en Ambulatiore ou cura hemodinâmica da insuficiência venosa em ambulatório, em tradução livre) e é bastante difundida na Europa.


Seus resultados são bastante semelhantes em termos de reaparecimento das varizes e melhora dos sintomas quando comparados à retirada da safena por cirurgia tradicional.


A cirurgia de retirada de safena deve ser realizada quando há refluxo venoso

Porém, muitas vezes, a safena acaba ocluindo por si só, ficando também inutilizada para fins de substituição de artérias. Além disso, essa técnica somente deve ser realizada por cirurgiões que a conheçam bem, pois ela é rica em detalhes que fazem a diferença no resultado pós cirúrgico.


Além dessa técnica, existem outras alternativas que estão sendo estudadas, como a colocação de próteses da junção da veia safena interna com a veia femoral no sentido de retomar a função das válvulas venosas ali presentes. Saiba mais aquiaqui e aqui.


Conclusão


A retirada da veia safena deve ser realizada apenas nos casos em que a veia apresenta-se dilatada e com refluxo. Ela pode e deve ser retirada nessas situações, não causando nenhum prejuízo à circulação da perna, pelo contrário: sua retirada irá favorecer o retorno do sangue ao coração por veias saudáveis. A safenectomia pode levar a complicações moderadas, como lesão de nervos sensitivos e vasos linfáticos, porém, na maioria das vezes isso não ocorre.


O grande prejuízo à pessoa que retirou todas as safenas (se retirou ambas as safenas magnas e parvas das duas pernas) é a falta de substituto arterial nos casos de necessidade de realização de pontes de safena. Mesmo assim, existem alternativas ao uso da veia safena como enxertos artificiais, produzidos com materiais como PTFe e dacron, além do uso de veias de outras localizações, como as dos braços.


Se ainda tiver dúvida quanto à retirada da veia safena, converse com o seu Cirurgião Vascular. Com certeza ele irá esclarecer o motivo pelo qual a safena deve ser retirada no seu caso.


Um grande abraço a todos os leitores! Até a próxima!


______________________________________

Sobre a autora

Dra. Juliana Puggina é médica cirurgiã vascular e escreve artigos informativos no blog 'Pernas pra que te quero'. Formada em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com residência médica em Cirurgia Vascular pela Universidade de São Paulo (USP). Membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e do American College of Phlebology. Atende em São Paulo/SP.


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